Por muitos séculos, ciência e espiritualidade foram tratadas como dimensões opostas, quase irreconciliáveis. A ciência, fundamentada na observação, na razão e na comprovação empírica, buscava descrever a realidade mensurável, objetiva e concreta. Já a espiritualidade parecia pertencer ao campo das crenças, da subjetividade e da fé, sem espaço para a verificação científica. Essa aparente separação, no entanto, tem se mostrado limitada. Hoje, cada vez mais, percebemos que ciência e espiritualidade não apenas podem dialogar, mas também se complementam, oferecendo juntas um entendimento mais amplo da vida e da existência humana.
O papel da fé sob a ótica da ciência
A fé, tradicionalmente entendida como crença em Deus ou em uma força superior, tem sido, ao longo da história, a base de inúmeros relatos de cura, superação e conquistas extraordinárias. Muitas pessoas atribuem esses resultados diretamente à intervenção divina.
A Parapsicologia Científica, porém, amplia essa visão ao demonstrar que a fé, ao ser vivida intensamente, atua como um poderoso catalisador de processos mentais e psíquicos. Quando alguém acredita profundamente que pode alcançar um objetivo, desencadeia em si mesmo mecanismos que mobilizam suas forças interiores. Emoção e convicção, quando unidas, tornam-se um potencial capaz de produzir resultados concretos.
Isso significa que a fé religiosa, além de alimentar a alma e fortalecer a confiança em Deus, também ativa recursos internos, inerentes ao ser humano, que foram concedidos pelo próprio Criador. O que, em linguagem religiosa, pode ser chamado de milagre, em linguagem científica pode ser descrito como a ativação de capacidades naturais, ainda pouco exploradas pela maioria das pessoas.
É importante destacar, no entanto, que a mesma força que pode gerar resultados positivos também pode, dependendo do estado mental da pessoa, produzir resultados negativos. Ou seja, a fé não é apenas acreditar que algo de bom vai acontecer, mas envolve direcionar corretamente a mente e a emoção para resultados construtivos e benéficos.
Religião e espiritualidade: caminhos distintos, essência única
Religião e espiritualidade também costumam ser confundidas, como se uma não pudesse existir sem a outra. Durante muito tempo, eu mesmo acreditava que eram inseparáveis. Hoje compreendo que não é bem assim.
Religiões são muitas: cada cultura, cada época, cada povo criou suas formas de conectar-se com o sagrado. São caminhos válidos, que oferecem ritos, ensinamentos e práticas que fortalecem a fé e ajudam milhões de pessoas a viverem melhor. Para muitos, é inconcebível viver a espiritualidade fora de uma tradição religiosa. E não cabe a ninguém contestar isso; pelo contrário, quem encontra amparo e sentido na religião deve ser incentivado a aprofundar sua vivência.
A espiritualidade, no entanto, é universal. Ela transcende religiões, pois está presente no modo como nos relacionamos conosco mesmos, com o próximo e com o planeta. Ser espiritual é ser bom, fazer o bem, cuidar do corpo que abriga nossa essência, respeitar a vida em todas as suas formas e agir com consciência, é ter compaixão e importar-se pelo outro. É no cotidiano — em casa, no trabalho, na comunidade, nas pequenas atitudes — que a espiritualidade revela sua verdadeira força.
Assim, religião é um caminho para a espiritualidade, mas não o único. Pode-se viver a espiritualidade dentro ou fora de uma doutrina, desde que se esteja conectado ao bem, ao amor e à consciência de que fazemos parte de uma grande totalidade.
Ciência e espiritualidade: uma síntese possível
A ciência, ao estudar as leis que regem o universo, aproxima-se do mistério da criação. A espiritualidade, ao inspirar a vivência do bem e a busca de sentido, conecta-nos à essência da vida. Se a ciência busca explicar o “como”, a espiritualidade nos convida a refletir sobre o “para quê”. Uma não exclui a outra; ao contrário, podem enriquecer-se mutuamente.
A Parapsicologia Científica, por exemplo, mostra que a fé tem efeitos reais e mensuráveis no comportamento e nos resultados da vida humana. É a centelha divina que se manifesta no próprio ser humano. Já a espiritualidade lembra que esses efeitos devem estar sempre direcionados ao bem, ao respeito e à harmonia universal.
Portanto, ciência e espiritualidade, longe de serem antagônicas, são expressões complementares da mesma busca humana: compreender o sentido da vida e viver em plenitude.
Como disse Roberto Crema, reitor da UNIPAZ de Brasília:
“Somos seres espirituais numa caminhada humana, e não humanos numa caminhada espiritual.”